25 de agosto de 2010

PCP apresentou o seu candidato

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O nosso camarada Chico Lopes tem capacidade para travar esta batalha". Foi assim que Jerónimo de Sousa fechou a conferência de imprensa do PCP onde foi ontem anunciado o nome do candidato presidencial. De seguida, ouviram-se os acordes dos "Verdes Anos", na guitarra de Carlos Paredes.

O Comité Central decidiu trazer agora para a primeira linha o homem-forte da máquina do partido, dando-lhe agora a visibilidade que não tem tido. Faz sentido: no dia em que Jerónimo de Sousa se retirar, Francisco Lopes será um sério candidato à sua sucessão. Da última vez, quando o Comité Central escolheu Jerónimo, Francisco Lopes - também operário, montador electricista - era muito jovem: só no domingo que vem fará 55 anos.

Tanto Jerónimo de Sousa como Carlos Carvalhas, antes de chegarem a secretários-gerais do PCP, também cumpriram a tarefa de representar o partido nas eleições presidenciais. Carvalhas em 1991, nas eleições em que Soares foi reeleito, um ano antes de ser designado pelo Comité Central sucessor de Álvaro Cunhal; Jerónimo de Sousa em 1996, quando desistiu a favor de Jorge Sampaio, exactamente oito anos antes de substituir Carlos Carvalhas na liderança do PCP, em 2004. Jerónimo repetirá a experiência nas últimas presidenciais, quando já era secretário-geral, obtendo 8,64%.

Francisco Lopes partilha com Jerónimo a origem operária, mas, ao contrário do extrovertido e afectuoso secretário-geral, é um tímido - mais na "linha" de Carvalhas e do próprio Cunhal, reservados e distantes. Mas fontes do PCP garantem que, ultrapassada a barreira, o "Chico Lopes" é diferente da imagem pública. No entanto, apesar da profissão que consta no currículo de Francisco Lopes ser a de electricista, também lá está que participou na actividade associativa do movimento estudantil no Instituto Industrial de Lisboa (actual ISEL) nos anos lectivos de 72/73 e 73/74, altura em que era membro da União dos Estudantes Comunistas (UEC). Mas não acabou o curso de engenheiro.

Há muito tempo que Francisco Lopes tem tarefas importantes no PCP. Entrou para o partido em 1974 (esteve antes na CDE, organização de oposição à ditadura e chegou a participar, muito jovem, no Congresso Republicano de Aveiro) e rapidamente abandonou o seu trabalho na fábrica "Applied Magnetics" pela tarefa de funcionário do partido. Fez parte da comissão de trabalhadores da fábrica, uma multinacional americana que abandonou Portugal com medo das consequências da revolução de Abril, recusando pagar as indemnizações devidas aos trabalhadores. Em pleno PREC, os trabalhadores encenam uma peça de teatro e correm o país a denunciar os malefícios das multinacionais.

Francisco Lopes sobe ao Comité Central em 1979. Substituiu o histórico Ângelo Veloso na ligação com a JCP e é responsável pela formação política dos dirigentes que se encontram à volta dos 40 anos. Bernardino Soares, o actual líder parlamentar do PCP, foi um dos homens que "cresceram" sob a sua influência.

Eleito pelo círculo de Setúbal como deputado à Assembleia da República, tem à sua responsabilidade a ligação ao mundo dos sindicatos e dos trabalhadores, aos quais dedicou parte do seu percurso político. Uma vantagem que Jerónimo de Sousa não quis deixar de destacar: "Tem grandes responsabilidades na actividade política do partido, uma dimensão institucional por ser deputado, boa capacidade de argumentação e está ligado aos trabalhadores. Isto é uma carta de alforria que nem todas as candidaturas têm." O nome do candidato foi aprovado por "unanimidade e aclamação" pelo Comité Central, com o objectivo de ir "desde a apresentação até aos votos", garantiu o secretário-geral do partido, Jerónimo de Sousa, palavras repetidas pelo próprio candidato.

Manuel Alegre saudou a candidatura do PCP, reconheceu que Jerónimo pode ter razão quando diz que os comunistas são os melhores a mobilizar o seu próprio eleitorado, e lembrou que Jerónimo tinha dito que os votos do PCP nunca faltariam à esquerda. Sim, mas o secretário-geral do PCP e o seu candidato presidencial: não faltarão à esquerda se forem precisos à segunda volta. E para o PCP a segunda volta não é garantida.

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