11 de março de 2010

Greve geral na Grécia

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Manifestações e greve geral na Grécia

Guerra à guerra do capital



Em resposta ao maior ataque das últimas décadas aos seus salários e direitos, os trabalhadores gregos, organizados pela PAME e pelo partido comunista, saíram às ruas, ocuparam edifícios públicos e entraram em greve geral.

Uma semana depois do anúncio de um novo pacote de medidas draconianas de austeridade, os trabalhadores da Grécia voltam hoje, quinta-feira, à greve geral, traduzindo a revolta e a indignação que atravessa as diferentes camadas da maioria da população.

Desde que, no dia 3, o governo de Iorgos Papandreu revelou o seu plano para reequilibrar as contas do país, uma sucessão de acontecimentos abalou a Grécia. No próprio dia, à tarde, a Frente Sindical Militante (PAME) realizou manifestações de protesto em 55 cidades e convocou uma greve geral de 24 horas para sexta-feira, 5, quando o parlamento foi chamado a votar as medidas restritivas.

Na madrugada seguinte, dia 4, um grupo de 300 sindicalistas da PAME ocupou o edifício do Ministério das Finanças, em Atenas, afixando na sua fachada um enorme cartaz com a altura de quatro andares, no qual apelava à insurreição popular: «Sublevai-vos para que as medidas não se apliquem». Acções semelhantes contra edifícios do Estado tiveram lugar por todo o país.

O jornal Rizospastis, órgão central do partido comunista (KKE), saiu nessa manhã com um apelo à greve geral de 24 horas, incitando as massas a participar nas 62 manifestações marcadas para a tarde.

Algumas horas depois, as duas maiores centrais sindicais, GSEE e ADEDY, claramente rebocadas pela contestação nas ruas dirigida pela PAME e pelos comunistas, reviram o seu calendário e aderem à greve geral de sexta-feira, convocando uma paragem de três e quatro horas, nos sectores público e privado.

Refira-se que ADEDY, federação da função pública, já tinha convocado uma greve para 16 de Março, deixando ao governo espaço suficiente para aprovar e impor o seu pacote antipopular.

Na realidade, vários grandes sindicatos filiados nas centrais reformistas acabaram por convocar uma greve de 24 horas, seguindo na prática a orientação da PAME. Tal aconteceu, por exemplo, nos transportes públicos de Atenas e em vários outros sectores de actividade.


Não basta votar contra

A votação das medidas, com o apoio dos conservadores da Nova Democracia e da extrema-direita LAOS, decorrerá com o parlamento cercado por milhares de manifestantes em greve. Os deputados do KKE abandonaram o hemiciclo considerando que medidas tão duras e injustas para a generalidade dos trabalhadores não eram passíveis de discussão.

Cá fora, perante dezenas de milhares de trabalhadores (ver vídeo aqui), a secretária-geral do KKE, Aleka Papariga, explicou a posição do partido: «Neste momento de nada serve discutir uma proposta de lei que é claramente contrária aos interesses dos trabalhadores e constitui o prelúdio de novas medidas (…) Nesta fase, tudo o que é discutido no parlamento tem consequências trágicas para o povo trabalhador, e por isso temos de lutar antes que os projectos de lei sejam submetidos a debate. Quando lá chegarem haverá uma maioria que os aprovará (…) Hoje, não é suficiente votar contra uma proposta de lei (…) o que importa realmente é o que os trabalhadores reivindicam e como o reivindicam (…). A população, os trabalhadores, os empregados, o povo trabalhador, todos têm de tomar esta causa nas suas mãos, tanto hoje enquanto oposição como amanhã enquanto classe no poder».


Saque aos bolsos do povo

O primeiro-ministro grego, Iorgos Papandreu, não hesitou em comparar a crise financeira do país a uma situação de guerra e falar na «salvação do país» para justificar as medidas anti-sociais, que reconheceu serem «duras e possivelmente injustas».

A injustiça é porém clamorosa. Os 4,8 mil milhões de euros que o governo «socialista» pretende obter durante este ano serão retirados quase integralmente dos bolsos dos trabalhadores, designadamente mediante o aumento generalizado dos impostos dos produtos de consumo generalizado e de uma radical redução dos rendimentos dos trabalhadores da administração pública.

Vejamos. A maior fatia, 1700 milhões de euros, é obtida na rubrica «redução de remunerações»: 740 milhões nos subsídios de férias e de Natal e outras prestações; 450 milhões resultantes do congelamento das pensões na função pública; 360 milhões da redução dos prémios (compensações atribuídas no passado em substituição de actualizações salariais) e dos salários; e 150 milhões da redução das subvenções do Estado para os fundos de pensões.

Segue-se em importância a rubrica «aumento do IVA»: 1300 milhões de euros obtidos com a subida para 21 por cento deste imposto socialmente cego, que provocará a subida generalizada dos preços, penalizando os que menos podem.

Ainda no campo da fiscalidade, a rubrica «outros impostos» proporcionará 1100 milhões de euros, com o aumento dos combustíveis, tabaco, electricidade, bem como produtos de luxo.

Já na rubrica «investimento público», o governo pretende recolher 700 milhões de euros, cortando designadamente no orçamento da Educação.

Por fim, o governo «socialista» de Papandreu espera recolher 200 milhões de euros com o aumento dos impostos sobre as «grandes propriedades imobiliárias». Está bem de ver que o plano governamental isenta o grande capital de contribuir para a dita «salvação do país», isto apesar ser ele quem lucrou com os desmandos orçamentais dos últimos anos.

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1 comentário:

  1. a situação grega esta como a portuguesa, só espero que os trabalhadores portugueses sigam o exemplo dos gregos

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